2004/04/16

Dia 3



Fui acordado pelo buliçoso barulho do diabo de um tractor. Bendito acordar! Foi a abençoada ida de incansáveis trabalhadores para a labuta de um dia a dia difícil e custoso. Eu, aberrante criatura com terríveis sentimentos de culpa fiquei nesta cama quente e fofa.

Sofro de uma alergia de origem genética ao trabalho. Soube que um meu tetra avô sofria desta mesma anomalia. É uma pequena deficiência ao nível do cromossoma 17, no gene 234, em que há a substituição de uma base guanina por uma arginina. Esta altera toda a leitura do gene, dando origem à formação de uma proteína, altamente reactiva, chegando mesmo a provocar uma intensa reacção anafilática, podendo, em casos de grande intensidade física provocar estado de choque.

Resumindo, não posso trabalhar. Não por calacice, mas por uma grave condição médica. Era sempre preferível, como qualquer bom cidadão da Parvónia, dedicar o meu dia ao trabalho agrícola. Que bafejados pela sorte são estes meus concidadãos! Eu que levo esta vida de tédio, sempre em passeios pelo campo, lendo e ouvindo música, dormitando à lareira fumando um bom charuto e com um balão de puro malte na mão. Triste sina a minha...

E assim se passou mais um dia desta (nem) sempre entediante vida na Parvónia.





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