Soares não é fixe
A candidatura de Mário Soares à Presidência da República enferma dos piores vícios que a democracia permite. Contém laivos do mais primário totalitarismo e representa de forma ímpar o socialismo como doutrina política.
As máscaras caem e revelam essa tendência primária de domínio dos órgãos de estado, da perpetuação no poder, da forçosa linha argumental de uma figura como ?pai? da democracia e sobretudo uma manifesta, inequívoca e perigosa arrogância misturada com desprezo pelos adversários.
A tentação de continuar continuamente no poder, mesmo que de forma indirecta, revela bem que o mito da figura de estado, por vezes com aura supra-institucional está bem presente no espírito do candidato. Este vê-se como o único Presidente, aquele que de forma unânime e inequívoca representa todos os portugueses, independentemente da idade, das ideias e da qualidade das suas intervenções. È quase uma figura mística a deste Soares, por vezes a raiar o de uma semi-divindade. As suas intervenções foram cruciais no passado, julga ele, os seus anos de presidência foram modelares, julga ele. É nítido que a campanha de Soares vive numa onda seguidista e distante da realidade onde Soares vai ditando leis absurdas que ninguém se atreve a contrariar. Os erros sucedem-se, mas o erro mais grave é inevitável. O erro de casting na escolha do candidato.
A idade do Dr. Soares é um assunto delicado, abordado com muito tacto pela imprensa e concerteza completamente fora do discurso permitido pela nomenclatura socialista aos seus correligionários. Mas a verdade é que é um facto importante. Não pode nem deve ficar de fora da campanha só pela urticária causada ao aparelho socialista. Já ficou bem patente que a capacidade do candidato está num plano muito inferior ao das anteriores presidenciais e mesmo, para não ir tão longe, ao das anteriores eleições europeias de que Soares foi cabeça de lista. É óbvio o esforço com que o candidato se expressa e já ficou bem patente a sua dificuldade em responder às perguntas que lhe colocam. A pose de político perdeu-se, como alguém de resposta pronta, e surgiu alguém que se escuda numa hostilidade com jornalistas e com quem o interpela bastante marcada. De facto, Soares está bastante mais distante do povo, com dificuldade e paciência para ouvir ou falar. Está no alto do seu imaginário trono com uma pose real, distante a mascarar a indiferença e mesmo repulsa que sempre foi nítida pelos seus semelhantes.
Felizmente as alternativas existem e este ano talvez com uma especial significância. Cavaco Silva surge com uma relativa naturalidade a ocupar o centro, estendendo-se até penetrar bem no tradicional eleitorado de esquerda, que estava arredado da sua figura desde tempos do tabu. O eleitorado mais à direita tende a rever-se também na figura do professor, facto ainda mais importante se considerarmos que esta parte do eleitorado tende a apoiar candidatos consensuais, numa forma de manter uma certa serenidade e estabilidade ao cargo de Presidente. Não são eleições em que a direita tradicionalmente se empenhe. À esquerda, talvez de uma forma mais moderada que Soares surgiu o candidato Manuel Alegre, vindo dar espaço de manobra aos descontentes com a decisão totalitária do partido socialista. Os resultados que as sondagens vão apontando reflectem essa realidade e este candidato surge posicionado acima do próprio Soares. Os outros candidatos não surgem como opções reais, antes são figuras de uma vendeta que não interessa aos portugueses e que nada de bom trará ao país. Terão o que merecem que é a indiferença perante as suas candidaturas do contra. E por falar em candidaturas do contra é novo e de certa forma preocupante outro facto destas eleições. As candidaturas de Louça, Soares, Jerónimo de Sousa e Manuel Alegre são claramente e assumidamente candidaturas do contra. Contra Cavaco, contra a direita, contra pessoas, contra franjas do eleitorado que a serem eleitos também iriam representar. A candidatura de Cavaco silva é a única pró, a favor de Portugal, dos portugueses, de todos os portugueses, a candidatura da inclusão, que pretende vir a representar Portugal e os portugueses.
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