2003/10/04

Crítica de costumes




”Uma cousa verdadeira, que os maus homens quase sempre têm, é a crítica mordaz dos costumes. Percebem e farejam os actos mais abscônditos da sociedade, como se a sociedade fosse obra deles.
As pessoas cândidas e boas vivem constantemente logradas, e andam tão vendidas nesta feira de pecados como o Serafim do auto de Gil Vicente. Enlevadas no especulativo, pairando ao de cima destas ambulâncias em que todos gememos amputados na alma ou no corpo, quando cuidam que é virtude e resguardo a ignorância das causas mundanais, vem o Mercúrio do poeta jogralesco de D. Manuel e diz-lhes:
Muitos presumem saber
As operações dos céus
E que morte há-de morrer,
E o que há-de acontecer
Aos anjos e a Deus
E ao mundo e ao diabo.
E o que sabem tem por fé;
E eles todos em cabo
Terão um cão pelo rabo
E não sabem cujo é.


Extracto da novelaMaria Moisés, das Novelas do Minho escritas pelo grande Camilo Castelo Branco.

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