2006/01/12

Quando os juízes querem transformar os jornalistas em investigadores

Quando as pressões de dar uma notícia se sobrepõem à ética de preservar o segredo de justiça. Mas será sempre lícito o jornal silenciar histórias e abdicar de dar notícias por as suas fontes serem anónimas?

Sou a favor do segredo profissional por parte dos jornalistas. Também sou a favor do dever de segredo de justiça. Os jornalistas têm o dever de relatar a verdade e defender as fontes até onde for humanamente possível. O problema é, obviamente quando estes dois segredos chocam. Neste contexto, é difícil descobrir de que lado está a razão. Custa-me ver os jornalistas perseguidos, soa-me demasiado a cercear de liberdades e garantias democráticas, mas custa-me igualmente ver processos como o da Casa Pia serem transformados num pântano de insinuações e revelações até confundirem toda a gente.
Em muitas redacções está fortemente arreigada a convicção de que "não se pode esconder nada", que não divulgar uma informação obtida de uma fonte anónima mas fiável é "censura", ou "auto-censura", e raríssimos são os jornalistas que se mantêm fiéis ao princípio definido no "Washington Post" durante a investigação do caso Watergate: é necessário que uma informação seja confirmada por pelo menos três fontes independentes e sem relação entre elas para que possa ser publicada. Infelizmente muitos jornalistas preferem "disparar primeiro e perguntar depois", sem olhar às consequências. Por isso, neste momento tão crítico e delicado, é necessário retomar os velhos princípios, no fundo... "back to the basics". Porquê? Porque neste processo a imprensa, os media, não são apenas mediadores: ao darem certas notícias tornam-se actores pois podem gerar danos irreparáveis.
Os leitores exigem saber sempre o mais possível sobre onde se obteve a informação e quais os méritos da fonte que tornam credível essa informação.
O uso de fontes anónimas deve ser reservado às situações em que o jornal não possa de outra forma publicar informação que julga ser de confiança e importante.
No entanto, como rotina, o anonimato não deve ser uma condição automática ou pré-assumida. Só quando os casos são especialmente sensíveis ou a fonte se confronta com riscos sérios à sua vida por falar connosco, devemos garantir sem condições o anonimato à fonte. A concessão do anonimato deve passar sempre por uma negociação enérgica, de modo a podermos dizer o mais possível ao leitor sobre a colocação e a motivação da fonte.
Todos, jornalistas ou não, percebem claramente e sem rodeios o que está em causa na relação entre jornalistas e fontes, nas respectivas implicações jurídicas ou deontológicas.

1 comentário:

I N T E I R O S disse...

Quando forem colocar as vossas poesias, fotos e imagens, sacos encontrados
no momento, coloquem-nos dentro de uma capa de plástico.
Deste modo, o papel ficará protegido da geada nocturna, vulgo cacimba, que
torna o papel molhado, deixando de ser totalmente legível o que se encontra
exposto.