2003/11/14

Sobre o sal, os médicos e outras bílis derramadas




Li no Médico explica medicina a intelectuais :
No Jornal de Notícias de 25/10/03:


"Cardiologistas propõem lei que limite o uso de sal


Hipertensão


Limitar, legalmente, o consumo de sal, é uma medida que a Federação Portuguesa de Cardiologia (FPC) preconiza, para combater a hipertensão. A proposta está a ser elaborada, e os responsáveis daquela instituição esperam que tome a forma de lei o mais rapidamente possível.
Obrigar a indústria a produzir alimentos com menos sal é o espírito da proposta, noticiada, ontem, pela TSF. Segundo Manuel Carrageta, presidente da FPC, "consumimos mais do dobro do sal do que os outros países europeus". A diferença é ainda maior em relaçãoaos valores recomendados pela Organização Mundial da Saúde (consumimos 18-20 gramas/dia, quando o admissível são cinco).
A FPC pretende que a redução seja feita gradualmente, para que não constitua um choque. Por exemplo, começa-se por uma redução de 10 a 20% do sal usado na confecção de pão, o que não fará grande diferença ao consumidor, repetindo-se o corte passado um ou dois anos, o que terá "um impacto extremamente positivo no número de hipertensos e no número de doenças cerebro-vasculares que ocorrem em Portugal".
Cerca de 40% dos portugueses com mais de 40 anos são hipertensos."





Ontem (04/Nov) deu um filme futurista, Homem Demolidor, que retracta um mundo paradisíaco, mas com uma limitação tirânica do ser humano. Representava a ditadura da saúde, da paz, da tolerância, etc. Nesse futuro o consumo de sal era proibido por lei. Se calhar, não estamos assim tão longe desse hipotético futuro. Regulamentar o consumo de sal é de uma estupidez que revela uma falta de coerência com princípios democráticos e de valorização do ser humano. Aconselhar, prevenir, muito bem. Agora proibir? Para que sociedade caminhamos em que até a liberdade, de escolher com que nos alimentar, nos é retirada?
Raios partam os moralistas da treta, sempre a impingir um modelo de saúde, não compatível com as vontades de quem é visado. Porra, deixem-me comer o meu pãozinho com sal, a minha manteiga com sal, e as outras tantas comidas com sal! Quem não quiser comer, que não coma. Já há muitos produtos sem sal no mercado. Não têm as mesmas vendas dos outros, não é? Isso da saúde pública é uma treta. Toda a gente sabe os efeitos perniciosos do sal, portanto, é uma escolha consciente entre o prazer da gula e os benefícios para a saúde que é feita, naturalmente em favor da primeira. E quem encomendou esse sermão aos médicos? Já que são os clientes/pacientes (e não me venham com a treta que o paciente não é cliente porque nunca vi, em toda a minha vida, um médico a tratar um doente sem ser remunerado para isso) que alimentam a classe, então deixem-na gozar. Quando eles precisarem, lá vos vão bater à porta. Como dizia o sábio Molière (e oh, que vidente ali estava, (...) “será possível que haja forma de vos curar da doença dos médicos, e que quereis ser, toda a vida, amortalhado nos remédios deles?” ) E não, não estou a ser pago pelo grande lobby do sal para escrever isto.

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