2004/07/16

Amizade




Por vezes atropelam a minha amizade. Impiedosa e cruelmente passam por cima da minha entrega, do meu empenho e tudo estilhaçam. Detesto quando me obrigam a ser cínico. Sou-o tão perfeitamente que detesto sê-lo. Está-me no sangue sê-lo. Por isso me custa tanto quando me forçam a sê-lo. Sê-lo-ei, que remédio. A espontaneidade que, para mim, torna a amizade em algo de único, de entrega sem freios morais ou de qualquer espécie foi irremediavelmente quebrada. Poderá a amizade subsistir a tão árduas provações?

As feridas têm de ser bem lambidas para não infectar. Vou agora tratar disso. Arduamente porque não quero perder mais que o que já perdi e que foi muito. Aquela ingenuidade quase infantil da amizade, as trivialidades que recheiam a existência e lhe dão consistência. Tudo perdido! Espero que ao menos possa uma qualquer Fénix renascer das cinzas que esta perda deixou. Que o vento não as espalhe e arraste para longe de mim, lá para onde não as verei jamais.

A sensação de perda assusta-me. Dá-me vontade de voltar aqueles cantinhos só meus, onde me escondo e não me encontro, onde sofro e nada sinto. Não gosto de perder. Não gosto.

Sem comentários: