2005/02/01

Lei de Murphy's

If anything can go wrong, it will.
E de facto. Porra hoje foi um dia de cão. Quando finalmente se vê uma luz ao fundo do túnel ficamos encadeadas e damos por nós a flutuar no nada, sempre a divagar, nunca conseguindo ancorar em porto seguro. Quando temos miséria e pensamos que vem ter connosco a felicidade levamos com a ruína em cima. Não há hipótese. O mundo é cão e o homem está condenado a sofrer e sofrer e sofrer. Não há esperança. Não há sentido para a vida. O objectivo é manter-nos à tona deste canal de esgoto, mas somos sempre arrastados para o fundo pelo peso da nossa iniquidade. O mal que vem de Deus é provação e o bem é ventura, dizia Diderot. Deus escapa-se sempre. Se calhar com razão. Aturar uma espécie como a nossa deve ser... Paciência. Se existe e nos fez que nos ature. Que ature toda a merda que somos e que fazemos. É a provação dele. E merecida.
Não há hipótese. Porra!
Estou a ouvir Mão Morta. Espero que não afecte o cinismo deste texto.
Nunca há hipótese. Apaguem as luzes que chegou a vez deste palhaço triste entrar em cena. Preparem a lona rota. Já tenho o nariz de plástico a corcunda que não é preciso criar, os sapatos rotos e gastos, o traje velho e decadente, a pintura que se esboroa por uma cara pintada de risos e tropelias que carrega uma alma em dor aos saltos de frieza e arrepios de sofrimento.
Iluminem o palco decadente que o palhaço vai entrar em cena. No público há risos, há desdém. É sempre assim. Nunca pode haver comiseração. Tristezas não pagam dívidas. E um riso explode no palco agora lustroso e limpo. É o palhaço rico, é a vida a rir-se do outro. Do pobre, das meias tricolores com buracos de ratos. Sim aquele dos sapatos rotos e cansados. Sim aquela que despreza a vida e a quem a vida ri. Reparem ri. Não sorri. Ri com maldade, com toda a maldade que há no mundo concentrada nesta estridente gargalhada. O riso dilacera, mata, aniquila a alma do nosso pobre palhaço. A pintura de má qualidade vai-se esborratando transformando o sorriso numa expressão de dor suja, uma mistura de branco, vermelho sanguíneo e preto da alma.
Preparem-se. A batalha vai começar. Conseguirá o pobre derrotar a vida? Como pode? Derrotar a vida não é a morte. Então percebe o pobre o que antes, na sua palidez tumular não tinha descortinado. Era um espectro, vago e deambulante, errático perante a vida que o atropelou e se roubou.
A miséria tende a crescer.
Esutem o vosso computador. O que é que ele diz? Ele fala? Falará se o souberes ouvir.
Um cérebro a derreter na escumalha mental de um degenerado não faria pior serviço que o que a vida nos faz. As almas não se tornam negras. Nascem assim, pretas, negras escuros, na sombra que é a nossa génese. Não caminhamos para a luz, evitamo-la. Como o Drácula de Stoker a vida caminha no oculto da noite nas sombras a tentar sugar mais vida, aos pobres seres que vai mantendo sob a sua asa.
A mágoa dói. Dói mais que o que achamos possível suportar. Mas suportamos, que remédio. O que estará para além de toda a dor? Que Bojador teremos que dobrar para a passar, para a deixar para trás. Será um ponto sem retorno ou dará direito a bilhete de ida e volta.
A dor física aguenta-se. A dor na alma suporta-se? Porque não deixar rebentar esta merda toda, abandonar a dor de alma abandonando a alma. A mdor dói. Mas porque temos que ser masoquistas e sofrer tudo em silêncio como um palhaço estúpido a quem morreu o cão. Rebentar o mundo, a vida, estoirar miolos, desparecre com a alma, fugir de deus e do mundo que nos oprime cega e não deixa suspirar. Não esconder as cartas no poker da vida. Afinal o bluff não resulta. Vai. Vai em frente. Junto ao precípio vai, anda, não tenhas medo, sussurro. Mas eu não tenho medo. Foi só o meu cão que morreu. Não interessa, vai, dá o passo salvítico e redentor dobra esse cabo e passa além da dor, não te intimides, no medo já tu estás, olha a vida de frente e escarra-lhe na cara. Passa esse ignominoso momento. Vai! Vai!
Os esqueletos escondidos no armário ganham vido e os ossos tilintam. E é bom! Soam bem. Que música, excelsa e plena. Quero pertencer ao sindicato da dor, afogar as mágoas em alcóol edítilico que faça esquecer... Mas oh, nada faz esquecer. As drogas que matam e moem não fazem esquecer. Não, não vás por aí. Tens o precipício. Vai. atita-te sem pensar, sem olhar duas vezes, contempla o teu futuro de ossos esmagados e vísceras espalhadas. Ah, redenção. Ah, paraíso. Há dor? Porquê?


1 comentário:

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom