2003/11/02

A Ti




O murmúrio do vento,
Frio, subtil leva-me
A encher-me de ti.
Numa loucura dos sentidos,
A confusão dos corpos,
Mistura de prazer,
Luxúria da excitação.
O prazer de uma noite só
Completa-me a ausência
De sentimentos que me tornam
Calculista, amoral e cínico.
A tensão da dor da partilha
É aliviada pelo prazer da solidão,
O onanismo perene e doce
Que me faz perder no meu ego,
Narciso tenso e confuso
Que parte a dor com um espelho,
Que também frio e cínico
Retribui perfídia e angústia.
Quando sei que vens choro de dor.
Não quero ceder à tentação
De expor a minha nudez moral
A ausência de características humanas
Que fazem de mim um monstro social.
Vivo fechado numa concha
Que não é minha. Quero sair, ceder,
Lutar por um Amor que me tenta.
Qual Orfeu disposto a descer aos infernos
Sinto-me incapaz de não olhar para trás.
Na dúvida do conseguir
Prefiro lutar com o desespero da minha inépcia
Perdendo tudo e todos
Com este medo que me inunda e pára,
De ser e não conseguir, esta renúncia
Pela covardia, ao Éden, que nunca terei.
Então por cá me fico a morrer
Mais um pouco, todos os dias,
Até à bonança final.




Flavius










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