2010/03/13

mas há palavras que fazem história

 

O editorial do I diz que os candidatos à liderança do PSD vão hoje falar de mudança e de ruptura. Deviam saber que a história apaga o significado das palavras.

Basicamente, o que se retém do editorial é a descrença do autor em palavras sonantes que, segundo ele, estariam a ser atiradas para o ar pelos candidatos à liderança do psd.

Esse é um receio que partilho, sem, no entanto, partilhar a descrença no espírito oratório da política. As palavras são tão necessárias como os actos que as podem (devem) acompanhar. Compreendo e comungo da ideia de desgaste e exaustão das rupturas e das mudanças. Mas também é verdade que quem queira romper tem que usar essas palavras. Tem que usar essas e não outras. Tem que ser directo, sem rodeios, sem medo de usar as palavras.

Rangel pode não querer mudar o nome ao partido. Pode nem definir um rumo à esquerda ou à direita ou mesmo mudar o paradigma político do partido. Fazer isso, a mudança para ser vista, a mudança descaracterizadora, seria

Não é preciso isso para romper. Basta começar em coisas simples, nas atitudes políticas quotidianas, no romper com a subserviência ao baronato do partido, no afastamento dos políticos sem nível, sem perfil e sem honestidade. Na criação de um espaço de debate que se dirige da sociedade para o partido e não o contrário. Na introdução da pluralidade de ideias e formações que reflictam a sociedade e a representem no partido.

Os partidos políticos em Portugal são um factor de estrangulamento de ideias. Afunilam o que recebem da sociedade e o que recebem é muito pouco. São estruturas que vivem desligadas do país, com pouca democracia, com castração mental de quem pensa além do dogma e, fundamentalmente, com poucos capazes de pensar além do dogma. São caixas de ressonância dos seus líderes e não adjuvantes na pluralidade que lhes devia chegar, de forma a poderem tomar a melhor de todas as decisões que lhes chegam, e não verem a sua opinião sabujamente bajulada como se fosse a descoberta da penicilina. As boas ideias nascem do confronto, da divergência e da discussão internas. Quando todos pensam para lados diferentes mas remam para o mesmo. Actualmente, todos pensam da mesma forma, mas remam para lados diferentes.

Essas mudanças anunciadas podem não passar do papel que o candidato recebe, podem não passar de brisas de vento que o candidato declama. Mas condená-las  à nascença, sem lhes dar hipótese de frutificar não me parece o mais correcto. Todos nos sentimos enganados pelos políticos, pela falta de coerência entre o discurso e a acção, mas desdenhar todo o que usa palavras sonoras é correr o risco de não aproveitar a diferença quando ela se nos apresenta. Como na justiça, todos são inocentes até prova em contrário.

O psd tem nestas eleições uma possibilidade de marcar a diferença. Espero que a aproveite, para bem do partido e sobretudo para bem do país. E as palavras liberdade e revolução não estão gastas nem perderam força. O que perdeu força foi a crença em que usava essas palavras. Essas estão lá, intocáveis, e cada vez fazem mais sentido. O que faz falta é alguém que as empunhe como uma espada e corte a direito neste marasmo.

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