2004/04/16

A Parvónia



Dia 1:



Cá estou eu, a leste do paraíso. Na terra onde não há notícias quem tem um fait-diver é rei. Sem nada que fazer não me apetece pensar. E muitos menos escrever. Nem compreendo porque o estou a fazer... Mas bem, já que comecei, cá vai. Este pretende ser o diário de alguém vilmente enclausurado na parvónia, uma terra que por sinal até vem no mapa, mas onde nada se passa. O quotidiano... Mas qual quotidiano? Este terra não vive. Sobrevive. Cá vou eu começar a minha crítica.

Tomemos um exemplo. O Ti Jaquim. É o presidente da Junta. Tenho que começar pelo peixe graúdo. É um gordo e atarracado personagem que governa a Parvónia como ninguém. Textualmente, como ninguém. Simplesmente o raio do homem não quer saber de trabalho. Em como pinguem os 30 contos (ou lá quanto é isto em euros) tudo corre sobre rodas. Em suma, esta personagem é a antítese do trabalho. Tem uma desculpa; quando andou na Guerra das Minas (trabalhou em Espanha como mineiro, logo numa mina. Mina, explosões de dinamite. Explosões de dinamite, guerra. Guerra, Guerra das Minas. Percebido???) foi vítima de um acidente sofrido no âmago do seu ser – ficou impotente. Este pormenor da impotência parece secundário mas não é. Passo a explicar: os animais podem ser usados como padronizantes para comportamentos impulsivos, primários (vulgo animalescos). Um animal macho é activo na procriação, defesa do território, alimentação, etc. Um macho castrado torna-se um animal indolente que associa a falta da procriação à falta de vontade para os outros comportamentos. Torna-se, frequentemente, efeminado, sendo recebido, quando o animal vive em grupo, como uma fêmea. Como uma fêmea ele ainda não é recebido, mas lá que é calaceiro e indolente... Resta dizer que o homem é um analfabeto. É verdade. Assina de cruz e tudo. É muito giro quando vai às reuniões da Câmara e lhe dão papéis para assinar. Já toda a gente sabe que ele não sabe ler. Mesmo assim fica a fazer que lê durante uma boa meia-hora para depois dizer em tom pomposo, acho muito bem que se façam estas obras. Isto tudo para depois assinar de cruz. O pior foi quando lhe deram um papel numa reunião de há dois meses. No fim, aquando das assinaturas, palhaçada do costume. Boas obras! – disse o Ti Jaquim. Foi quando lhe disseram que aquela era a lista de donativos, em que cada um participava com 100 euros para uma missão de cooperação com Moçambique, que o homem foi aos arames! Mas arrotou com a maçaroca como um homem grande!

Pronto. Cá fica esta descrição primária sobre uma personagem que, com toda a certeza, dará muito que falar...

E assim se passou mais um dia desta (nem) sempre entediante vida na Parvónia.







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