2003/09/04

Literatura Portuguesa e o seu ensino




Os programas curriculares de ensino da Literatura Portuguesa são algo deveras enganoso. Os alunos ficam com uma ideia da LP errada. Nos currículos a poesia é maioritária. Dá-se uma ideia de que só na poesia tivemos grandes autores, ficando a prosa e o drama relegados para planos infinitamente secundários. Mas será que realmente é assim? É certo que os, para mim, grandes génios literários escreveram maioritariamente poesia. Refiro-me a Luís de Camões e a Fernando Pessoa. Mas, mesmo este último, tem obra em prosa que deveria ser realçada.
Um dos meus autores favoritos, e um dos grandes autores em língua portuguesa é Camilo Castelo Branco. Este autor foi completamente arredado do ensino. De ele faz-se uma resenha histórica, mencionando-se também o nome de algumas das suas obras. No fundo, todo o período ultra-romântico é menosprezado. É ensinada com grande vigor a mudança que a Geração de Setenta, que introduziu o realismo e o naturalismo em Portugal, propiciou. O Ultra Romantismo é colocado sempre no papel de “mau da fita” representando a decadência literária e toda a degradação de costumes da sociedade portuguesa de então, como se fosse directamente responsável por tal. A carta de Antero de Quental, Bom Senso e Bom Gosto é mostrada como um magnífico exemplo da troca de opúsculos polémicos que ocorreu na altura. A carta resposta de Camilo, Vaidades Irritadas e Irritantes é mencionada pelo título e nunca objecto de estudo mais atento; e eu, considera a última um dos maiores exemplos de epístolas polémicas da Língua portuguesa, sem sombra de dúvida infinitamente superior, literária e estilisticamente, à de Antero.
Noutros países da Europa, nomeadamente em Espanha com Cervantes e o seu D. Quixote e em Inglaterra e Estados Unidos com William Shakespeare, os grandes autores da língua são extremamente valorizados, sendo-lhes dedicada uma quantidade de tempo muito maior que em Portugal. Só com tempo se consegue alcançar com alguma aproximação as obras dos grandes da nossa literatura. Com isto quero dizer que o tempo dedicado a Camões e a Fernando Pessoa é muito reduzido para se ter a pretensão que os alunos entendam minimamente o esplendor da obra literária destes dois autores. De Pessoa fica-se com a impressão de génio esquizofrénico e louco, que tinha várias pessoas dentro dele, logo um doido varrido. De Camões que foi um génio lá no antigamente, namoradeiro e valentão que morreu na miséria. Das obras, fica que os Lusíadas têm dez cantos, foram e são a obra máxima da pátria e pouco mais. De Pessoa que escrevia poemas muito malucos, difíceis de analisar como tudo e ... mais nada.

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