2003/09/05

Novela, O João e o telemóvel mágico.




João era um pequenito de Maxial. Num dia infernal, devido aos gigantescos incêndios que assolaram esta pequena terra, e nos quais o nosso pequeno herói começou a dar mostras do seu grande carácter ao ajudar os bombeiros indo-lhes, abnegadamente comprar tabaco, fósforos, isqueiros e gasolina, esta aldeia ficou isolada, sem telefones. Mas aí o pequeno João pegou no seu telemóvel mágico e disse: velhinhos e velhinhas, menos velhinhos e menos velhinhas, eu tive um sonho. E nesse sonho via tudo preto. E não, não estava com os meus pais na Damaia. Dessa escuridão, a que por sinal já estou habituado, vi surgir uma luz verde. E essa luz verde piscava intermitente. Pensei ser Deus, mas Deus não é verde, é azul, como ficou na terça provado (isto era o pequeno João a fazer uso dos seus ainda desconhecidos poderes divinatórios). E a essa luz seguiu-se uma música, cada vez mais alta. Era a Assereje das Ketchup. Percebi então que era o meu telemóvel mágico. Surgido das nuvens como o super-homem, só que não voava, nem tinha super-poderes, nem uma capa e era sempre o mesmo telemóvel. E Deus disse-me, perdão, o telemóvel mágico disse-me, XPTO, o seu saldo é inferior a 5 euros, favor recarregá-lo. Aí eu percebi que desígnios mais altos se levantavam para mim. Fiz-me herói, e agora meu povo vos digo: Nunca mais ficará nenhuma chamada por fazer no Maxial! Ao acordar do meu sonho fiquei danado pois para além de não ter sonhado com a Marisa Cruz, o que eu tanto queria, acordei todo mijado e raios partam ainda levei uns tabefes da minha avó.
Passado algum tempo... o telemóvel mágico começou a apresentar sinais de cansaço. Estava riscadote, já (se) ouvia mal, microfone avariado e chips confundidos, o que fez com que a fada madrinha BODAFONA o substituísse. Foi então enviado para o seu último lar, o Aterro Sanitário de Alguidares de Baixo que o de Cima estava cheio. Não há dia em que o João não pense no seu telemóvel mágico e diga, aquele cabrão estava mesmo a precisar de ir pró lixo, e então primeiro a medo e depois em catadupa as lágrimas qual rio revoltoso apoderam-se da cara do pequenito João. Há quem diga que é do fumo que ainda chateia Maxial. Mas não, o nosso pequeno herói era um ser piedoso. Então a fada madrinha trouxe um novo ajudante ao pequeno João. Este era um topo de gama, com toques polifónicos, ecrã a cores, jogos e câmara fotográfica. Esta última funcionalidade serviu de muito para a vida do João. No início começou por tirar inocentes fotografias a velhinhos e velhinhas sorridentes. Mais tarde, e vendo as potencialidades que estavam aos eu alcance, começou a chantagear os Maxienses. Ninguém escapava à câmara pidesca do pequeno João. Foram as fornicações próprias e impróprias, roubos e sacanices, até a burra da Ti Alzira foi chantageada por ser amante do Ti Zé das couves. E Maxial nunca mais foi a mesma...

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